Artigo

Eventos climáticos extremos: de quem é a culpa?

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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A tragédia se abateu sobre o Rio Grande, estamos desolados com tanta destruição e neste momento o que não falta são apontamentos quanto ao que poderia ser feito e não foi (e é verdade) na tentativa de encontrar culpados. Mas afinal, de quem é a culpa? Nossa, inteiramente nossa. A Terra está mais quente 1,2 graus, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas) e continuamos a fazer tudo do mesmo jeito.

A nossa reação às mudanças ainda é muito tímida e por isso insuficiente para frear a projeção de cenários tão destrutivos que aos poucos vêm se materializando diante dos nossos olhos, a cada evento com mais intensidade. E não é só isso. A percepção geral da sociedade, quanto ao significado do aquecimento global e mudanças climáticas é mínima. Tão pequena que quase dá para dizer que quase ninguém está percebendo o perigo.

A emergência climática de agora vem sendo construída há décadas e tem muito a ver com os nossos hábitos e práticas que precisam ser corrigidas, em todos os sentidos. Precisamos fazer uso das ferramentas ESG (Environmental, Social and Governance) e incluir os princípios da sustentabilidade em nossas operações e atividades, sejam na forma de produzir, ou de gestar nossas cidades. Não dá mais para viver no risco, expostos e vulneráveis. Não é possível a insistência de continuar fazendo da forma errada, como se fosse o certo. Estamos perdendo vidas, patrimônios e boa parte da nossa capacidade instalada de gerar riquezas.
De outra parte, é fato que este evento terrível, que ainda não acabou (a tragédia está em curso) vai nos levar para a necessidade de um outro olhar. Tenho dito em inúmeras entrevistas, inclusive para a imprensa internacional, que o esforço de reconstrução das cidades atingidas, particularmente as que se encontram encaixadas em vales de inundação, terá que vir acompanhado de medidas de prevenção e adaptação. Afinal, não tem sentido reconstruir para perder tudo outra vez. Os recursos precisam estar vinculados ao interesse de infraestruturas mais robustas e áreas residenciais mais seguras e fluidas aos eventos climáticos extremos.


E para não se imaginar que não estou pensando em Pelotas, ou nos municípios da nossa região, alerto para a necessidade de revisitarmos os Planos Diretores e instrumentos de Planejamento Ambiental. Não se pode mais permitir, autorizar ou licenciar empreendimentos imobiliários em terrenos baixos, planos e úmidos como os que temos por aqui. Isso precisa parar!

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